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Satélite ‘burla’ censura levando jornalismo independente em russo a espectadores da Rússia e Ucrânia

Projeto da Repórteres Sem Fronteiras foi lançado oficialmente no Parlamento Europeu

Svoboda rede de canais de jornalismo independente em russo

Londres – A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) colocou no ar um serviço de transmissão por satélite com o objetivo de levar jornalismo independente em idioma russo a pessoas que vivem nos territórios ocupados da Ucrânia, nos países bálticos e na própria Rússia.

Nove canais de TV e rádio em língua russa estão sendo agora transmitidos por um dos satélites Hot Bird da operatora Eutelsat, ao vivo e sem criptografia, contornando a proibição de acesso a meios de comunicação que não se alinhem às narrativas do governo imposta pela Rússia após a invasão da Ucrânia.

O serviço ganhou o nome de Svoboda (liberdade, em russo). “É a prova que as democracias podem exportar jornalismo independente para inverter a lógica da propaganda”, diz a RSF.

Rádios e TVs com jornalismo independente em russo

A cerimônia de lançamento do serviço Svoboda aconteceu no Parlamento Europeu, em Bruxelas, no dia 5 de março.

O projeto foi proposto pela organização Comitê Denis Diderot em 2022  para restabelecer o livre fluxo de informação, sem propaganda de guerra, entre a Europa e a Rússia. Comitês de ética e de conteúdo, formados por personalidades da sociedade civil e jornalistas, aconselharam o grupo responsável pela concretização da iniciativa.

O serviço está disponível para 4,5 milhões de residências na Federação Russia e 800 mil na Ucrânia ocupada, e pode também ser acessado a partir da Europa, Oriente Médio e Norte de África, com potencial de alcançar 61 milhões de domicílios onde vivem pessoas que falam russo.

Os espectadores não precisam de equipamentos especiais para sintonizar os novos canais além da própria TV. A posição de satélite é a mesma que já envia o sinal de outras emissoras.

 

Variedade de canais independentes

A primeira oferta do pacote Svoboda inclui canais comandados por reconhecidos jornalistas independentes russos, muitos rotulados como agentes estrangeiros pelo Kremlin, e também ucranianos e bielorrusos.

Entre eles estão o Novaya Gazete Europe, operação no exílio do jornal do prêmio Nobel da Paz Dmitry Muratov. O jornal foi proibido de circular e de publicar conteúdo no site.

Também fazem parte da grade de TV o Gordon Live (dos jornalistas ucranianos Dmitry Gordon e Olesia Batsman), Belarus Tomorrow,  jOst/West 24 (canal de notícias em russo baseado em Berlim), TV8 Moldova, Current Time (sob a responsabilidade da Radio Free Europe/Radio Liberty e Voice of America.

O Svoboda transmite ainda a programação de três rádios: Echo (que se mudou para Berlim depois da guerra), Radio Sakharov e Euroradio, da Bielorrússia.

Nos próximos meses, serão adicionados mais fornecedores de conteúdos, bem como um novo canal dedicado exclusivamente a notícias. O pacote via satélite oferecerá até 25 canais independentes de rádio e televisão em língua russa.

 

RSF's Svoboda satellite package to Provide Independent Journalism to Russian-Speaking Populations

 

Sergey (sobrenome omitido por segurança), que vive em Moscou, está atualmente com acesso aos canais, segundo a RSF, e comentou:

“Posso acessar facilmente esses novos canais na minha TV. Graças a esse projeto, nós, cidadãos, podemos ter acesso a informações livres, independentes e plurais, e assim criar a nossa própria opinião”.

Christophe Deloire, Secretário-Geral da RSF destacou a importância da iniciativa para aumentar o alcance do conteúdo produzido por jornalistas russos obrigados a deixar o país após a invasão da Ucrânia.

“Em um contexto de redução do espaço digital na Federação Russa, o pacote de canais via satélite Svoboda representa nosso empenho inabalável pelo direito de acesso ao jornalismo e um esforço em apoiar a resistência da comunidade jornalística russa no exílio”.

Vera Jourova, Vice-presidente da Comissão Europeia, destacou o papel dos jornalistas independentes “na linha de frente da guerra de informação”.

“Precisamos utilizar todos os meios possíveis para garantir que o trabalho desses profissionais, os fatos e a informação possam chegar às pessoas de língua russa”.

“Apoiar a liberdade dos meios de comunicação e a luta contra a desinformação são duas faces da mesma moeda. Ambas são necessárias para defender os valores democráticos”, completou Jourova.

Redação MediaTalks

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